Padrões de Consumo
O Brasil perde por ano US$ 19 bilhões por absenteísmo, acidentes e enfermidades causadas pelo uso do álcool e de outras drogas.

O uso de drogas que alteram o estado mental, chamadas de substâncias psicoativas (SPA), acontece há milhares de anos e muito provavelmente vai acompanhar toda a história da humanidade. Quer seja por razões culturais ou religiosas, por recreação ou como forma de enfrentamento de problemas, para transgredir ou transcender, como meio de socialização ou para se isolar, o homem sempre se relacionou com as drogas.

Essa relação do indivíduo com cada substância psicoativa pode, dependendo do contexto, ser inofensiva ou apresentar poucos riscos, mas também pode assumir padrões de utilização altamente disfuncionais, com prejuízos biológicos, psicológicos e sociais. Isso justifica os esforços para difundir informações básicas e confiáveis a respeito de um dos maiores problemas de saúde pública que afeta, direta ou indiretamente, a qualidade de vida de todo ser humano. 

DO ULTRAPASSADO CONCEITO MORAL AOS SISTEMAS CLASSIFICATÓRIOS ATUAIS

O conceito, a percepção humana e o julgamento moral sobre o consumo de drogas evoluíram constantemente e muito se basearam na relação humana com o álcool, por ser ele a droga de uso mais difundido e antigo. Os aspectos relacionados à saúde só foram mais estudados e discutidos nos últimos dois séculos, predominando, antes disso, visões preconceituosas dos usuários, vistos muitas vezes como "possuídos por forças do mal", portadores de graves falhas de caráter ou totalmente desprovidos de "força de vontade" para não sucumbirem ao "vício".

Atualmente estamos na 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), que apresenta as descrições clínicas e diretrizes diagnósticas das doenças que conhecemos. Essa é a classificação utilizada por nosso sistema de saúde pública. Outro sistema classificatório bem conhecido em nosso meio é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-4), da Associação Psiquiátrica Americana.

O diagnóstico da Síndrome de Dependência do Álcool pode estabelecer níveis de comprometimento ao longo de um período contínuo, entre o nunca ter experimentado até o gravemente enfermo, considerando os aspectos do grau de dependência relacionado com o grau de problemas.

Esse conceito de dependência transcende o modelo moral, que considerava beber excessivamente uma falha de caráter, e até mesmo o modelo de doença "alcoolismo", diagnóstico categorial em que só se pode variar entre ser ou não portador da doença, sem permitir graduações de gravidade dos quadros, no qual a perda do controle, a presença de sintomas de tolerância e abstinência determinam o indivíduo como sendo ou não alcoolista (dependente de etílicos). 

A SÍNDROME DA DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL RUMO ÀS ABORDAGENS MODERNAS

Conforme conceituaram, na década de 1970, os cientistas Edwards e Gross, os principais sinais e sintomas de uma Síndrome de Dependência do Álcool são os seguintes: 

  • Estreitamento do repertório de beber: as situações em que o sujeito bebe se tornam mais comuns, com menos variações em termos de escolha da companhia, dos horários, do local ou dos motivos para beber, ficando ele cada vez mais estereotipado à medida que a dependência avança;
  • Saliência do comportamento de busca pelo álcool: o sujeito passa gradualmente a planejar seu dia a dia em função da bebida, como vai obtê-la, onde vai consumi-la e como vai recuperar-se, deixando as demais atividades em plano secundário;
  • Sensação subjetiva da necessidade de beber: o sujeito percebe que perdeu o controle, que sente um desejo praticamente incontrolável e compulsivo de beber;
  • Desenvolvimento da tolerância ao álcool: por razões biológicas, o organismo do indivíduo suporta quantidades cada vez maiores de álcool ou a mesma quantidade não produz mais os mesmos efeitos que no início do consumo;
  • Sintomas repetidos de abstinência: em paralelo com o desenvolvimento da tolerância, o sujeito passa a apresentar sintomas desagradáveis ao diminuir ou interromper a sua dose habitual. Surgem ansiedade e alterações de humor, tremores, taquicardia, enjoos, suor excessivo e até convulsões, com risco de morte;
  • Alívio dos sintomas de abstinência ao aumentar o consumo: nem sempre o sujeito admite, mas um questionamento detalhado mostrará que ele está tolerante ao álcool e somente não desenvolve os descritos sintomas na abstinência porque não reduz ou até aumenta gradualmente seu consumo, retardando muitas vezes o diagnóstico;
  • Reinstalação da síndrome de dependência: o padrão antigo de consumo pode se restabelecer rapidamente, mesmo após um longo período de não uso. 

USO DE DROGAS

É a autoadministração de qualquer quantidade de substância psicoativa. 

ABUSO DE DROGAS

Pode ser entendido como um padrão de uso que aumenta o risco de consequências prejudiciais para o usuário.

Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID), o termo "uso nocivo" é aquele que resulta em dano físico ou mental, enquanto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) "abuso" engloba também consequências sociais.

DEPENDÊNCIA

No quadro seguinte encontra-se uma comparação entre os critérios de dependência referidos nas classificações do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e da Classificação Internacional de Doenças. Esses dois sistemas de classificação facilitam identificar o dependente de substância psicoativa. Veja com atenção: 

 

Comparação entre critérios de abuso e uso nocivo da DSM-IV e CID-10

ABUSO

USO NOCIVO

Padrão mal adaptativo de uso, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativos, manifestados por três ou mais dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses: 

  1. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:
  2. (a) uma necessidade de quantidades progressivamente maiores para adquirir a intoxicação ou o efeito desejado;
  3. (b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade;
  4. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos:
  5. (a) síndrome de abstinência característica para a substância;
  6. (b) a mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência;
  7. A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido;
  8. Existe um desejo persistente ou esforços malsucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso;
  9. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para obtenção e utilização da substância ou na recuperação de seus efeitos;
  10. Importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso;
  11. O uso continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado.

Três ou mais das seguintes manifestações ocorrendo conjuntamente por pelo menos um mês ou, se persistirem por períodos menores que um mês, devem ter ocorrido juntas, de forma repetida, em um período de 12 meses:

  1. Forte desejo ou compulsão para consumir a substância;
  2. Comprometimento da capacidade de controlar o início, término ou níveis de uso, evidenciado pelo consumo frequente em quantidades ou períodos maiores que o planejado ou por desejo persistente ou esforços infrutíferos para reduzir ou controlar o uso;
  3. Estado fisiológico de abstinência quando o uso é interrompido ou reduzido, como evidenciado pela síndrome de abstinência característica da substância ou pelo uso desta ou similar para aliviar ou evitar tais sintomas;
  4. Evidência de tolerância aos efeitos, necessitando de quantidades maiores para obter o efeito desejado ou estado de intoxicação ou redução acentuada desses efeitos com o uso continuado da mesma quantidade;
  5. Preocupação com o uso, manifestada por redução ou abandono das atividades prazerosas ou de interesse significativo por causa do uso ou do tempo gasto em obtenção, consumo e recuperação dos efeitos;
  6. Uso persistente, a despeito de evidências claras de consequências nocivas, evidenciadas pelo uso continuado quando o sujeito está efetivamente consciente (ou espera-se que esteja) da natureza e extensão dos efeitos nocivos.  

 

DADOS E HÁBITOS DE CONSUMO

No Brasil:

O segundo LENAD (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas) foi realizado em 2012, escolhendo aleatoriamente indivíduos com 14 anos ou mais de todo o território brasileiro. Um total de 4.607 entrevistados responderam sigilosamente a um questionário padronizado com mais de 800 perguntas que avaliaram o padrão de uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas, bem como fatores associados ao uso problemático, como depressão, suporte social, saúde física, violência infantil e doméstica, entre outros. Clique aqui e confira os dados levantados.

 

No trabalho:

Segundo cálculos do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID), o Brasil perde por ano US$ 19 bilhões por absenteísmo, acidentes e enfermidades causadas pelo uso do álcool e de outras drogas. Clique aqui e confira outros dados sobre o consumo no trabalho.

Fonte: DUARTE, Cláudio Elias; MORIHISA, Rogério Shiguo.Texto adaptado do original do curso Prevenção do uso indevido de drogas: Capacitação para Conselheiros Municipais.  3 ed. -  Brasília: Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD, p.347 / 355 - 2012.


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